As tralhas
Sergio Moro quer saber o que é tralha do Lula e o que é tralha do patrimônio da União entre os objetos que o ex-presidente recebeu de presente durante o governo e recolheu depois ao cofre de um banco.
Moro mandou uma requisição ao Palácio do Jaburu para esclarecimentos. O juiz é cheio de truques. A verificação das tralhas é mais uma etapa da Lava-Jato.
A intenção é óbvia. Moro quer saber se, na saída, Lula não pegou um cavalinho de cobre da Ucrânia ou um colar de sementes com filetes de ouro da Namíbia, que deveriam ter ficado em Brasília.
É só o Jaburu fazer uma lista e dizer que Lula pegou o que não devia (quem vai contestar e com que argumentos?), e está pronta a manchete: Lula apropriou-se de bens da União.
O cientista político André Singer, ex-porta-voz de Lula no Planalto, escreveu em artigo publicado ontem na Folha que a decisão de Moro de prender e soltar Guido Mantega deve ser vista como um corte, o exagero final, o limite nas arbitrariedades do juiz.
É como se Singer imaginasse: daqui ele não passa ou não deve passar. Não vão deixar.
Pois Singer teria razão numa situação de normalidade. E não estamos em uma situação normal.
O Brasil canta o hino por onde Moro passa. Até o Supremo está nas mãos de Sergio Moro.
Aguardem a história das tralhas.
As preocupações de Lula quanto ao destino dos onze caminhões que transportaram suas tralhas, cuidadosamente organizados sob o olhar severo de Dna.Marisa Letícia, na verdade, restringiam-se a apenas um: aquele com cabine climatizada, responsável pelo transporte de sua valorizada adega. sabendo-a em lugar seguro, – um amigo de espírito elevado prontificou-se a guardar o acervo em seu sítio em Atibaia – mandou que a Policia Federal enfiasse em algum lugar qualquer o processo relativo ao conteúdo dos outros dez caminhões. Acredito que as tralhas recebidas por Lula enquanto presidente, oferecidas por chefes de estado, ficarão sob a responsabilidade do Instituto Lula, enquanto ele existir, e a Receita Federal não apurar as suspeitas de desvio de finalidade que o envolvem. Desde que Lula adquiriu o direito de não mais precisar trabalhar, a muitos anos, ele vem se dedicando a apurar seu paladar etílico. As melhores castas, os maltes mais nobres, as melhores cachaças mineiras tem sido finamente degustadas durante esses últimos dez anos, sob a aveludada fumaça de um puro Montecristo. Enquanto isso, um grande mistério aguarda para ser desvendado pela turma do TCU, responsável pelo levantamento do acervo. Onde foi parar o cocho para porcos, presente de Juscelino, transformado por Dna. Marli Sarney em floreira, e que adornava o jardim do Palácio da Alvorada? Essas tralhas ainda vão dar muito o que falar.