BOLSONARO E OS PANELAÇOS

Há um entrave desmobilizador nos panelaços. Quem bate panelas não ouve nem vê o que o sujeito diz nas falas pela TV, ou ouve muito mal. E não dá pra ficar sem saber o que Bolsonaro está dizendo.

No quinto pronunciamento depois do início da pandemia, pela primeira vez ele se dirigiu às famílias dos que estão morrendo.

Mas falou alguma coisa com a imposição de um líder aos que estão lutando nos hospitais para que milhares sobrevivam? Nada.

Como é que Bolsonaro, agora assumidamente propagandista de remédio, consegue manter o mesmo nível de apoio, em meio a falas sinistras, brigas com seu ministro e com governadores, prefeitos e cientistas?

Que porção torta do país ainda consegue apoiar Bolsonaro nesse nível que não cai de um terço da população?

As esquerdas têm que admitir que a força de Bolsonaro talvez seja maior do que qualquer reação, muito maior do que a ameaça dos panelaços. Não vamos nos enganar.

Os panelaços têm caixa de ressonância no Jornal Nacional, mas uma avaliação mais distanciada mostra que as panelas estão sem força.

Quem quiser que se engane, como os moradores de regiões densamente povoadas e politizadas, como a Cidade Baixa, em Porto Alegre. Não tomem essas zonas da cidade como referência.

Os panelaços se repetem com o mesmo tamanho, desde o começo. Não crescem, vão e voltam, não têm constância. Os panelaços agora são intermitentes, e em algumas regiões, como a que eu moro, nem acontecem mais.

Os batedores solitários de panelas em zonas ocupadas por casas já cansaram de fazer barulho como malucos, sem ter com quem compartilhar seus desaforos.

Os panelaços nos enganam com a sensação de que estamos fazendo alguma coisa, porque não fizemos quando era possível sair às ruas. As panelas nos tornam manifestantes pela metade, no desconforto da clausura.

É um autoengano que nos consola, mas é pouco para compensar o que não foi feito quando havia tempo e havia rua. Amanhã haverá panelaço? E na sexta também, ou não haverá porque é Sexta-feira Santa?

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