DAVID UIP É O MÉDICO NA GUERRA. BOLSONARO NÃO É MAIS NADA

A única preocupação que Bolsonaro deveria ter hoje, como emergência política, seria esta: provar que não é tutelado pelos militares e que não demitiu Luiz Henrique Mandetta porque quis.

Se não conseguir provar, com um gesto forte, Bolsonaro ficará marcado como o presidente brasileiro mais manobrado da História.

Há pelo menos uma semana circula a informação de que o general Braga Netto assumiu a chefia da Casa Civil para monitorar Bolsonaro. E que agora, na guerra da pandemia, passou a deter o poder absoluto de tomar as principais decisões no Planalto, enquanto Bolsonaro pensa que governa.

O maior incômodo para Bolsonaro não é o desafio diário do seu ministro da Saúde contestando suas orientações. É saber que todo mundo já sabe que ele não tem mais nenhum poder de deliberar e de ser ouvido.

E o que faz Bolsonaro para fugir do incômodo? Tenta incomodar o médico David Uip, chefe do centro de contingência contra o coronavírus em São Paulo. O infectologista recuperou-se e já voltou ao trabalho, depois de infectado pelo coronavírus.

Mas Bolsonaro suspeita que ele tomou a cloroquina. É o remédio que Bolsonaro propagandeia como a droga milagrosa contra a peste. O sujeito é abertamente, sem vergonha na cara, lobista do laboratório que produz o remédio

O médico se recusa a responder, porque a sua resposta poderia desencadear uma corrida maluca.

Se David Uip admitir que tomou a droga, mesmo que essa não tenha ação comprovada, a cloroquina será o remédio mais vendido em todos os tempos, não só no Brasil. O infectologista deve estar calculando o que pode dizer. E por enquanto prefere ficar calado.

O que ele não pode é dizer algo que permita leituras enviesadas. Se ele se salvou e tomou a substância, a conexão será imediata.

Tem gente dizendo que Bolsonaro, ao invés de cobrar informações do médico, deveria mostrar o que seria o laudo negativo do teste para saber se estava infectado.

Não é relevante. A prova decisiva hoje é outra. Bolsonaro precisa provar que governa, que não é um sujeito sob controle dos militares, não por ser fascista, mas por não ter competência para administrar o país.

A sua preocupação com bobagens (não se sabe de uma decisão, uma só, que tenha sido tomada por Bolsonaro) é a prova de que ele não governa.

Bolsonaro passa os dias na vagabundagem, com tempo para mobilizar a extrema direita pelo Twitter e provocar um médico destemido, que esteve doente e voltou ao trabalho para salvar vidas.

Alguém vai contestar e dizer que David Uip foi secretário da Saúde dos tucano, que é amigo de Alckmin e Doria Júnior, isso e aquilo. Não interessa. Tentem evitar essas inutilidades, não imitem Bolsonaro.

O que importa é que Uip é um respeitado médico infectologista, a maior autoridade brasileira em Aids e comandante da guerra à pandemia em São Paulo. Ele pode provar que é tudo isso.

Bolsonaro não consegue provar mais nada, porque não é mais o presidente, ou talvez nunca tenha sido. Até os haitianos sabem.

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