QUEM VAI INVESTIGAR A HISTÓRIA DO REMÉDIO MILAGROSO?

Os mais ingênuos acham que Bolsonaro faz propaganda da hidroxicloroquina, como o remédio milagroso que pode salvar o Brasil e o mundo, porque se consagraria até na Índia. Se desse certo, poderia virar santo. Talvez só não fosse santificado na China.

Se o uso incorreto do remédio der errado, para Bolsonaro e os filhos (e muitos outros que defendem o uso em massa) já terá dado certo. O negócio é vender o remédio não só para os brasileiros, mas para o mundo todo. E estão vendendo muito.

Luiz Henrique Mandetta sabe disso. O que há por detrás do anúncio de milagre é um negócio bilionário. Bolsonaro é o garoto-propaganda do milagre, agora com o reforço de Osmar Terra.

No dia 21 de março, Bolsonaro anunciou que laboratórios do Exército iriam produzir o medicamento usado para combater o lúpus, a malária e a artrite reumatoide.

No dia 24, Bolsonaro e os filhos gravaram um vídeo, ao ar livre, no Alvorada, em que o sujeito defende o remédio e diz que vai investir na sua produção.

No dia 26, Bolsonaro apareceu ao lado de Ernesto Araujo com uma caixa de um remédio produzido com hidroxicloroquina. Estava a seu lado o ministro das Relações Exteriores, em conferência mundial do G20. O chanceler dava dimensão mundial à imagem. O Brasil salvaria o mundo.

Bolsonaro já falou outras vezes do remédio, enquanto mobiliza gente de dentro e de fora do governo na tentativa de convencer Mandetta de que deveria falar do milagre.

Mandetta até tocou no assunto em coletivas, quase insinuando que poderia se juntar à turma, depois recuou e agora fincou pé.

O ministro assegura que não vai defender o uso indiscriminado antes da comprovação. Que experimentem e avaliem, mas sem uso indiscriminado. Vai aguentar a pressão?

Na coletiva de ontem, Mandetta disse várias vezes que defende a ciência, sempre dando indiretas para Bolsonaro não só em relação ao fim do isolamento, mas do lobby em favor do produto.

O que se sabe hoje é que, depois da reunião de ontem, em que Mandetta foi mantido, chamaram o ministro para um canto e disseram que ele deveria assinar um protocolo liberando o uso da substância. Mandetta se negou a assinar.

Quem chamou Mandetta? Não se sabe. Mas ele mandou seus assessores espalharem ontem mesmo que havia sido pressionado e se negado a referendar o uso do medicamento.

Há médicos, jornalistas, sites e marqueteiros fazendo lobby junto com os Bolsonaros. É só pesquisar no Google. Trump é o propagandista nos Estados Unidos.

Se a hidroxicloroquina não der certo e, ao contrário de salvar, ajudar a matar muita gente, por uso inadequado, quem ficará sabendo qual foi a participação do coronavírus e do produto no desfecho de cada caso?

E agora a informação que circula, tardiamente, sobre Renato Spallicci, presidente do grupo Apsen Farmacêutica, produtora do Reuquinol, remédio que Bolsonaro já mostrou várias vezes.

O DCM informa que Spallici é ligado a Bolsonaro, é bolsonarista juramentado, antiLula e antiPT e tem circulado em Brasília fazendo o lobby do milagre mundial contra a pandemia. É do jogo.

Mas a ênfase com que Mandetta defendeu várias vezes a ciência e o conhecimento, na entrevista de ontem, pode reforçar a tese de que a resistência do ministro em aderir ao milagre é um dos motivos do embate entre ele e Bolsonaro. Mandetta estaria atrapalhando um negócio.

Na coletiva, Mandetta repetiu duas vezes essa lista de palavras que vão orientá-lo: ciência, disciplina, planejamento e foco. Ciência aparece em primeiro lugar.

Para Bolsonaro, a palavra deve ser outra. Jornalistas investigativos, investiguem a história do milagre.

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