MASCARADO, BOLSONARO TENTA FICAR FOFO

Bolsonaro contrariou tudo o que disse e fez nos últimos dias ao decidir pela aparição na entrevista coletiva de hoje à tarde. O motivo é o mais óbvio possível. O negacionista percebeu que caminhava para o impeachment.

Bolsonaro começou revogando sua decisão de não mais usar coletivas como forma de dar publicidade às suas decisões. Tudo seria direto, por pregações no Twitter ou pelos vídeos grotescos que produz.

Jornalistas, repete ele, não ajudam em nada. Mas a cena de hoje para a imprensa foi armada, como teatro ruim, com os ministros mascarados num mesão em que só faltaram as flores.

Mesmo assim, desferiu bordoadas na imprensa que estava ali para confrontá-lo com suas contradições.

As máscaras foram apenas o adereço da farsa, porque o próprio governo diz que pessoas sem sintomas não devem usar nada no rosto.
Estavam todos lindamente mascarados.

Era preciso fazer a cena da adesão tardia à guerra contra o coronavírus.

Foi assim que Bolsonaro tentou desfazer a imagem de irresponsável, mesmo que tenha mantido a posição de que não errou ao ir ao encontro da claque de admiradores, no domingo.

A coisa ficou grave, disse finalmente Bolsonaro. Mas repetiu: sem histerias.

Luiz Henrique Mandetta, ao seu lado, teve o pior momento desde o início das performances como líder do combate à pandemia.

Elogiou Bolsonaro pelo menos cinco vezes, numa fala de cinco minutos, em tom claramente exagerado. Disse que tudo que havia sido conseguido até agora era por empenho e determinação do seu chefe. Não é nada disso.

Assustado, pressionado, ao lado do homem da Anvisa que quer derrubá-lo, bajulou demais. O chefe de Mandetta conspirou até agora contra a linha adotada pelo Ministério da Saúde e por médicos, cientistas e profissionais envolvidos nas ações de governo.

Todos pedem que o país pare e evite uma tragédia semelhante à da Itália, e Bolsonaro queria que tudo seguisse em frente. Mudou um pouco para tentar sobreviver.

Mas o Bolsonaro fofo e mascarado (chegou a pedir que as pessoas cuidem bem dos seus parentes) reduziu o risco de ser derrubado?

Ele mesmo sabe que pode até escapar do vírus, mas ainda não escapou da ameaça de impeachment. Bolsonaro apenas retornou ao começo do purgatório.