NINGUÉM DETÉM O CRIMINOSO

A torcida do Flamengo, todos os partidos, a OAB, os sindicatos de trabalhadores, prefeitos e governadores, empresários, a UNE, as ONGs, a Igreja, os jornalistas, os professores – todo mundo pode emitir opiniões e manifestos contra Bolsonaro.

Todos podem repetir tudo o que já foi dito sobre Bolsonaro. Que precisa ser interditado, que ninguém aguenta mais, que é um criminoso empurrando o país para uma tragédia.

Mas toda essa gritaria será inconsequente. Amplifica-se a reação ao fascismo que Bolsonaro representa e é preciso ter mais gente gritando. Mas não resulta em nada de concreto. Só gritaria e indignação.

O que o Brasil quer saber é: o que pode ser feito com alguma consequência para que Bolsonaro seja afastado do cargo e deixe de cometer crimes, como o cometido hoje ao promover aglomerações em Brasília em torno da sua figura patética e insegura.

O impeachment é um processo político lento e improvável nessas circunstâncias. Uma interdição? Mas quem pede a interdição? Com que argumento legal?

A procuradoria-geral da República poderia tentar enquadrar Bolsonaro por crimes diversos. Que crimes? Bolsonaro seria acusado do quê?Atentado contra a saúde pública. Apologia à desobediência às leis dos Estados? Disseminação de propaganda mentirosa contra ações do próprio governo que ele deveria representar?

Um documento de 11 partidos, emitido hoje, diz que serão estudadas “as medidas cabíveis” para que Bolsonaro seja denunciado criminalmente. Tudo é muito vago.

Hoje mesmo circulou a notícia de que o procurador-geral da República, que poderia adotar alguma medida contra Bolsonaro, mandou arquivar um memorando em que cinco subprocuradores-gerais pediam que Aras recomendasse a Bolsonaro que evitasse manifestações contra a política do Ministério da Saúde do próprio Bolsonaro.

Subprocuradores pedindo que o chefe deles recomendasse a Bolsonaro que deixasse de agir contra os interesses do governo. Aras arquivou o pedido de seus subordinados dizendo o seguinte:

“Neste momento em que o país atravessa estado de calamidade pública, exige-se do Ministério Público brasileiro mantenha-se afastado de disputas partidárias internas e externas (sic), sem entraves à atuação dos órgãos competentes no cumprimento de seus deveres, a fim de que todos vençamos o coronavírus”.

Todos vão vencer o coronavírus, senhor Augusto Aras? Todos quem? Como vencer a pandemia se o presidente da República duvida da pandemia?

Há o que fazer, mas os que poderiam agir se encolheram diante de Bolsonaro. Então, que emitam notas sobre notas, manifestos, memorandos, mensagens no Twitter, no Facebook, no Instagram, no WhatsApp.

Mas sem efeito nenhum, como esse texto que escrevo agora. Bolsonaro é um criminoso que ninguém consegue pegar. O próprio Aras diz na resposta aos subprocuradores que cabe ao Congresso Nacional – e não ao Ministério Público – o juízo definitivo a respeito das funções políticas exercidas pelo presidente da República.

E o Congresso faz o quê? O Congresso faz acordos, faz conchavos. O Congresso produz silêncios e omissões.

O Congresso só foi valente para cassar Dilma. O Congresso é covarde.
Ações isoladas não resolvem, como a do deputado federal Alencar Santana (PT-SP), que encaminhou uma representação contra Jair Bolsonaro pelo crime de genocídio.

E a quem ele enviou a representação? Encaminhou a Augusto Aras, o procurador-geral que engavetou o pedido dos subprocuradores. Alguém acha que o procurador irá procurar alguma coisa contra Bolsonaro?

Desistam. Aguardem um milagre que possa conter Bolsonaro.