O ex-tudo que agora também é ex-ladrão de galinha

Se tivesse falado antes com Lula, Sergio Moro ficaria sabendo que não dá pra confiar em juízes. Moro entrou no gabinete de Gilmar Mendes esses dias na condição de integrante do crime organizado, na definição do próprio ministro, e saiu como ladrão de galinhas.

Foi rebaixado em menos de um mês. No dia 12 de março, em entrevista à TV Brasil, Gilmar Mendes disse:

“Na verdade, a Lava-Jato terminou como uma verdadeira organização criminosa, envolveu-se em uma série de abusos de autoridades, desvio de dinheiro, violação de uma série de princípios e tudo isso é de todo lamentável”.

Ao receber Moro no dia 2 de abril, o ministro rebaixou a condição do ex-juiz, diante do senador Wellington Fagundes, do PL do Mato Grosso, que acompanhava a conversa:

“Você e Dallagnol roubavam galinha juntos. Não diga que não, Sergio”.

Mendes reviu suas sentenças sobre a Lava-Jato, que chegou a considerar uma frente contra a corrupção, até emitir depois o acórdão desqualificador não só da facção, mas do juiz que a liderava.

Moro pode dizer que o chefe formal e institucional do grupo em Curitiba era o procurador Deltan Dallagnol. Ele era o magistrado que julgava o que a Polícia Federal e o Ministério Público apuravam.

Sabe-se há muito tempo que Moro é quem orientava e determinava os rumos da força-tarefa, cuidando inclusive de detalhes da caçada a Lula. Foi de guardião da moralidade a ladrão de galinhas.

E agora está diante de ser algo difuso, que ninguém se arrisca a dizer o que possa vir a ser. Será ex-juiz, ex-caçador de corruptos, ex-justiceiro, ex-empregado de Bolsonaro, ex-consultor, ex-integrante de facção criminosa, ex-senador e ex-ladrão de galinhas.

O relator das duas ações contra ele, no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná, Luciano Carrasco Falavinha Souza, encheu cerca de 300 páginas para sustentar seu voto. É quase o equivalente ao último romance de Vargas Llosa, Tempos Ásperos.

O relator escreveu um voto do tamanho da complexa história contada por um Prêmio Nobel, só para dizer que não houve nada de errado com a campanha eleitoral de Sergio Moro em 2022.

Olhando a esfera da política, sob o ponto de vista da Justiça Eleitoral, Falavinha ofereceu a Moro a inocência, logo no dia 1º abril. Um dia depois, examinando a esfera da magistratura, Mendes classificou Moro como ladrão de galinhas.

O voto do relator foi público. A conversa de Mendes e Moro foi privada. E aí está o ponto que poderia ter merecido um alerta de Lula, se o ex-juiz tivesse conversado antes com o ex-presidente.

Conversas privadas vazam de dentro de altos gabinetes do Judiciário. Em 16 de março de 2016, vazou para a Globo a conversa da presidenta Dilma Rousseff com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A gravação do diálogo saiu de um gabinete. Uma conversa grampeado de forma criminosa. Foi o mesmo Mendes do encontro de agora, sobre as galinhas, quem impediu que Lula virasse chefe da Casa Civil de Dilma, dois dias depois do grampo ilegal feito pela facção chefiada por Moro.

O Globo noticiou assim, e esse é um bom resumo: “Na decisão, o ministro Gilmar Mendes afirma ter visto intenção de Lula em fraudar as investigações sobre ele na Operação Lava-Jato”.

Pois iríamos descobrir, oito anos depois, pela voz do mesmo Gilmar Mendes, que Moro participava na verdade de uma organização criminosa. E descobre-se agora que, enquanto caçava Lula, Moro roubava galinhas ao lado de Deltan Dallagnol. Segundo o mesmo Gilmar Mendes.

É o que está em todos os jornais e todas redes sociais, desde a reunião de Mendes com Moro e com o senador de Mato Grosso. O caçador de Lula, que ajudou no golpe contra Dilma, era um ladrão de galinhas.

Quem vazou a conversa sobre a dupla de ladrões de galinhas? Sergio Moro tem experiência em vazamentos, porque foi ele quem mandou o grampo ilegal de Dilma e Lula para um mandalete da Globo.

Porque era, dizia ele depois, do interesse da Justiça, do povo, da moralidade e, saberíamos mais tarde, do plano da extrema direita para derrubar Dilma, encarcerar Lula e chegar ao poder com Bolsonaro.

É um clichê repetir aqui que Moro é um amador lidando com profissionais. Mas essa é a realidade da vida de clichês desse prestador de inestimáveis serviços à extrema direita.

Moro será engolido pelo sistema político que condenava e demonizava e pelo sistema de Justiça que teve a ambição de tentar controlar. O sistema irá devorá-lo.

Foi o que sobrou para o ex-juiz, ex-caçador de corruptos, ex-justiceiro, ex-empregado de Bolsonaro, ex-consultor, ex-integrante de facção criminosa e futuro ex-senador.

No desespero, foi pedir socorro para Gilmar Mendes, logo para Gilmar Mendes. Foi atraído para uma armadilha e ficou carimbado para sempre como ex-ladrão de galinhas. Mas galinhas grandes. Aprendeu que até das raposas o sistema exige menos amadorismo.

4 thoughts on “O ex-tudo que agora também é ex-ladrão de galinha

  1. E boa parte do STF infantilmente caiu na lorota do tal clamor popular, instigado pela burguesia exploradora e vendilhona, rasgando a constituição e votando favoravelmente prisão em segunda instância. Decisão vergonhosa.

  2. prêmio “faz a diferença” da globo: personalidade do ano de 2014. Ladrão de galinha.

    Confederação Maçônica do Brasil confere Comenda no Grau de Grã-Cruz em 2016. Ladrão de galinha.

    não tenho certeza se foi Nassif ou Joaquim de Carvalho (ou os dois) quem contou os podres do ex-juiz federal no interior do Paraná. ladrão de galinha.

  3. complementando: esses “piás de prédio”, cueras interioranos devem ter ameaçado Gilmar Mendes com um canivete, e Gilmar respondeu com uma motosserra. Bem feito!

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