O MANIFESTO DO CENTRO SABICHÃO PARA AS PERIFERIAS

O brasileiro Celso Furtado e o argentino Raúl Prebisch ofereceram, na segunda metade do século 20, com bons argumentos e comprovação, um conceito decisivo para a compreensão do mundo, o conceito de centro e periferia.

Podem dizer que é uma abordagem que está em desuso, mas não deveria estar. Não precisa explicar que Furtado e Prebisch trataram da desigualdade das relações de poder econômico (e cada vez mais político) entre o centro rico e desenvolvido e o ‘resto’ pobre ou sempre perseguindo o desenvolvimento.

A ausência do Brasil da reunião do tal G-11, que vai debater as relações com a China, está aí para provar que somos a periferia da periferia. Por decisão de Trump, o Brasil bolsonarista não tem nem o direito de pensar em voz alta ao lado deles.

Pois cada manifesto que vem sendo emitido (e são muitos) em nome da democracia e contra o avanço do fascismo no Brasil sempre parte do centro, para só mais tarde pedir o engajamento da periferia.

Os manifestos são idealizados e emitidos por cabeças privilegiadas pensantes do Rio e de Paulo, em todas as áreas. E depois seus formuladores saem a pedir o apoio dos Estados periféricos.

A esquerda e as forças chamadas democráticas acabam por reproduzir, até quando repudiam o fascismo, as práticas que sempre condenaram.

É como se a inteligência nacional ainda estivesse concentrada nos centros irradiadores de poder e conhecimento, e que as bordas do Brasil seriam apenas convidadas a referendar o que o centro pensa, diz e faz.

Os manifestos acabam sendo muito mais a expressão da voz de celebridades do que a representação de forças dos mais diversos campos da resistência. Há um déficit de diversidades regionais nesses textos assertivos e propositivos.

É sempre assim, como foi agora com o manifesto do Estamos Juntos. Rio e São Paulo é que se juntam, ditam o que deve ser falado e escrito, e o resto que siga atrás.

O contrário, com a periferia se manifestando e se impondo em relação ao centro, não seria a solução, como alguns podem pensar. A solução é tentar deixar de ser egocêntrico.

Nem entro no debate proposto por Lula e outros que não assinaram o manifesto e o consideram um movimento de contingentes da centro-direita alquebrada, na tentativa de recuperar espaços perdidos pela morte do tucanismo.

Também não discuto muito o apelo do slogan, que parece gasto e está em mensagens antigas de todo tipo de negócio, parece que inclusive da direita.

O que está claro é que o manifesto é bem intencionado, como se dizia antigamente, porque é compacto e genérico, mas é mesmo meio bunda-mole e parte do centro para os lados. Para esse pessoal, a política continua sendo feita numa terra plana.

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