O NOBEL E AS FALSAS CONTROVÉRSIAS DO JORNALISMO
Escrevi sobre o Prêmio Nobel da Paz concedido a dois jornalistas, sabendo que algumas reações seriam as de sempre. A mais previsível é a de que o Nobel é o prêmio do imperialismo. Fazer o quê?
Entendi que deveria exaltar o prêmio como um reconhecimento às mídias ditas alternativas, que tentam avançar à margem das grandes corporações.
É o caso dos premiados Dimitri Muratov, do jornal russo Novaya Gazeta, e Maria Ressa, da agência digital filipina Rappler.
Maria Ressa denuncia os horrores da ditadura de Rodrigo “Digong” Roa Duterte. Dimitri Muratov luta pelas liberdades na Rússia do eterno Vladimir Putin.
Alguns comentários, especialmente no site do DCM, me atacaram como aliado do americanismo contra Putin.
Os que atacam sabem, e sabem muito bem, que seis jornalistas do Novaya Gazeta já foram assassinados.
Para os que enxergam o Nobel como uma artimanha imperialista, Putin é o último reduto de uma certa esquerda que pede liberdades no Brasil, mas faz concessões a parceiros que considera decisivos para o enfrentamento dos amigos dos Estados Unidos.
Não são poucos os que pensam assim. Outros queriam que o prêmio fosse dado a Julian Assange. Seria o ideal para todos nós, mas não é fácil assim.
O Nobel é uma concessão que tem o efeito que tem por causa dos milhões de dólares envolvidos na premiação.
Ninguém com algum conhecimento mediano sabe o nome de nenhum dos membros da academia e de outros grupos que escolhem os prêmios, em todas as áreas. Poucos devem saber.
Então, o Nobel é o que é, um prêmio que reconhece virtudes e dá um alto valor em dinheiro aos escolhidos.
Não se pode ver o Nobel como uma academia de sábios preocupados em agradar a esquerda mais atormentada.
O Nobel fez bem ao escolher os dois jornalistas e avisar que a produção de conteúdo do século 21 que importa é a gerada pelos veículos sem compromissos com o poder econômico e o poder político.
Não tem jogada nenhuma contra Putin, o amigo de Bolsonaro. O Nobel da Paz é para ser comemorado pelos jornais que vivem dos seus leitores, mas poderiam também sobreviver com a ajuda dos capitalistas que se dizem progressistas.
Deixem de atacar o Nobel e ataquem as esquerdas com dinheiro que se negam a ajudar a sustentar o jornalismo progressista, antibolsonarista e antifascista.