O SUJEITO QUE SÓ PENSA EM AR PURO

A percepção de cada um pode indicar que as pessoas desapareceram das ruas ou o contrário. As Informações desencontradas dão até debate.

Já ouvimos amigos dizendo que o bairro Menino Deus, em Porto Alegre, está vazio, e outros assegurando que está normal. Mas, dependendo do lugar, podem dizer que está vazio e está mesmo. Como podem estar cheios.

Uma percepção generalizada é esta: os parques de Porto Alegre estão lotados de gente. Não há quem diga o contrário. E isso é revelador.

As ruas ao redor podem estar mais vazias, algumas regiões têm pouca circulação, mas as pessoas continuam desfrutando das áreas de lazer como se desfrutassem de um feriadão sem fim.

O que chamam de orla de Porto Alegre, ao redor do Gasômetro, estava lotada ontem. Ipanema, na zona sul, idem. Gente em grupos, até fazendo churrasco, piquenique, caminhando, tomando mate.

Mas como pode, se são pessoas de classe média, razoavelmente informadas? Seria porque a ficha cai para alguns e não cai para outros? O sentimento de medo, misturado ao cuidado racional consigo mesmo e de preservação do outro, ainda não se disseminou?

E aí alguém aparece dizendo que, se começar a morrer muita gente, os medos serão acionados, junto com o sentimento de empatia e comoção. Não serão o suficiente.

Os traumas das perdas ficarão restritos às famílias e aos amigos. Para o resto, que não deixa de ir aos parques, os mortos são números, são os outros. Há muito tempo é assim.

Se morrerem centenas de médicos e enfermeiros, como já estão morrendo no Brasil, não haverá comoção. As pessoas que saem às ruas continuarão saindo, porque as mortes de quem poderia socorrê-las mais adiante não mobiliza nenhum sentimento mais profundo.

Não haverá comoção, não haverá tristeza, não haverá nada. Nada. No máximo, aquela emoção de sofá diante da TV.

O contingente que continua desfrutando dos parques, indiferente aos apelos para que cuide da própria saúde e respeite os outros, é amoral.

O brasileiro reproduziu por anos esse tipo de gente. Agora, chegou ao amoral perfeito, à criatura melhor acabada dos tempos bolsonaristas. Esse tipo insensível elegeu Bolsonaro. Se não elegeu, por um descuido, pode tentar corrigir a falha em 2022.

Os parques estão lotados de gente sem escrúpulos. A foto ao alto é da famosa Praça do Pôr do Sol, em São Paulo, e foi publicada pela Janara Lopes, do site IdeaFixa. A praça estava lotada ontem. A TV mostrou imagens melhores, de aglomerações.

Não são valentes que não têm medo do vírus, não são indiferentes. São assumidamente egoístas sociais, um tipo que o golpe de agosto de 2016 só aperfeiçoou.

Os que participam das carreatas da morte e passeiam pelas ruas e parques são muitas vezes piores do que Bolsonaro. São os que asseguram a existência de gente como o pai e os filhos.

São figuras geralmente brancas, bonitas, de classe média, fortes, alguns são ciclistas, outros são ambientalistas e adoram animais.

Outros tantos são os que já foram definidos como psicopatas do cotidiano. Uma pandemia os empurra para as ruas e os denuncia.

Não são tipos repulsivos, como o bolsonarista clássico, porque se protegem em máscaras de bacanas e descolados. E adoram sol e verde.

Na cabeça deles, nunca precisarão um dia de um respirador mecânico. Eles amam ar puro.

2 thoughts on “O SUJEITO QUE SÓ PENSA EM AR PURO

  1. Caro moises.
    Nao precisa ir LONge.
    Vá TODo final de tarde ao parcao.
    Muita gente caminhando, pedalando, sentada aos bancos e barrancos.

    Mas e eu…como sei disso?
    Tenho de passar pela goethe de 2 em dias 2 dias para ver como meus velhos pais estao.

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