UM GOLAÇO DO JORNALISMO
Publiquei aqui nesse blog, no Brasil 247 e no site dos Jornalistas pela Democracia, um texto sobre o encontro de Dias Toffoli com Bolsonaro, no sábado, e disse que a imagem do abraço caloroso entre os dois seria uma montagem.
Claro que fiz uma ironia, desde o começo do texto, diante da cena esdrúxula na porta da casa de Toffoli. Escrevi que a cena só poderia ser uma montagem.
Bolsonaro havia acionado durante meses os militares, filhos, amigos dos filhos no Gabinete do Ódio, Sara Winter e outros fascistas contra Toffoli e o Supremo.
Parecia improvável que Toffoli pudesse receber em casa, poucos dias depois de deixar a presidência do Supremo, o sujeito que blefou durante meses, ameaçando com um golpe que fecharia o Supremo.
Foi sobre isso que escrevi. Escrevo de novo agora para esclarecer aos que não entenderam a ironia. Teria ficado parecendo que meu texto desqualificava a imagem do abraço.
Não foi isso. É o contrário. Meu deboche com a cena é, antes disso, a exaltação do feito jornalístico que capta aquele momento.
O autor da imagem é o repórter cinematográfico Welson Aires, da CNN, que flagrou uma das cenas mais absurdas da política brasileira desde o golpe de agosto de 2106.
A imagem desse abraço é a síntese do Brasil sem escrúpulos, mas não existiria como documento e como denúncia das promiscuidades de Brasília sem a presença de um jornalista.
Está esclarecido. A imagem que sustenta o meu texto (e o de tantos outros jornalistas que escreveram a respeito) é um golaço de um repórter em atividade num sábado à noite. Aos que não entenderam ou não gostaram da ironia, fica a explicação.
(A reportagem da CNN está no link logo abaixo)
Hoje em dia é assim: temos que explicar a piada, a ironia, porque já se perdeu o senso de humor. Curioso é a piada caia mal, mas o fato não causa tanta indignação. Os absurdos, o que antes pareceria um escárnio, como o comportamento da dupla da foto, hoje em dia é tranquilamente tolerado. “O tempora, o mores!”