A nova tragédia Argentina
Alberto Fernández poderia ter sido o Fernando Haddad argentino que chegou ao poder e deu certo. Mas deu errado.
É professor universitário, culto, cordial, um cara legal em meio às truculências da política de um país sempre em crise e ainda com sequelas da ditadura.
Assumiu dizendo que governaria sem deixar de ser professor. Abriu o governo à diversidade, compartilhou o poder com as diferenças, chamou assessores LGBTQI+ (a ministra das Mulheres e da Diversidade, Ayelén Mazzina, é lésbica), foi pioneiro na América Latina na vacinação contra a Covid e dedicou-se a combater a miséria, mas fracassou.
Pegou um país quebrado por Mauricio Macri e não conseguiu reabilitar a economia. Quem, nas mesmas circunstâncias, conseguiria?
Cristina Kirchner, com quem se desentendeu, também é considerada quase fora da eleição de outubro, mesmo que a dúvida continue.
Com inflação de 100% e desemprego, a Argentina abre as portas para o fascismo de Javier Milei, o economista e deputado de extrema direita considerado o Bolsonaro deles.
Não há nomes fortes do peronismo, e os argentinos se encaminham para mais um tango trágico, desta vez com a eleição de um extremista, porque nem o macrismo sem Macri, que tem base política, talvez consiga enfrentá-lo.
O jornal Página 12 fez um levantamento da atuação de Milei no Congresso. Não aparece para trabalhar, não frequenta comissões, não conversa com ninguém e não apresenta projetos.
Em quase tudo é semelhante a Bolsonaro. Lidera uma coalizão chamada Liberdade Avança, uma pilantragem da direita antissistema.
Simplifica a abordagem de problemas complexos, ataca a política, debocha dos movimentos sociais, é aliado de negacionistas. Mas conquista principalmente os jovens.
É uma realidade assustadora. A ascensão de Milei ao poder pode acabar com o peronismo na sua versão kirchnerista.
São tempos terríveis para a democracia, os movimentos sociais e as esquerdas. O Brasil e Lula também sofrerão muito.
É tão desolador que até o vídeo de despedida de Fernández nos apresenta a um homem já sem vitalidade na voz, mesmo que sempre fale baixo.
Falta a eloquência da despedida. O presidente sai abalado, destruído, e narra o vídeo usando apenas imagens de arquivo, sem mostrar o rosto hoje.
Abaixo, o vídeo em que Fernández anuncia a desistência: