O SERVIÇO À ESPERA DE MANDETTA

O que será de Luiz Henrique Mandetta como ex-ministro? Ficará vagando por aí? Nos últimos dias, foi dureza a situação de Mandetta.

Muitos à esquerda consideraram fraca sua performance no Fantástico, porque deu voltas para falar de Bolsonaro, e a referência à padaria não teria sido entendida pela maioria. O povo não liga padaria a Bolsonaro.

E outra turma, a da direita, mas incluindo até gente da esquerda, acha que Mandetta passou dos limites. Por isso o ministro pode cair daqui a pouco.

Mas Mandetta teve, em dois meses de pandemia, uma efetividade antibolsonarista que ninguém da esquerda conseguiu.

Teve o desplante de dizer ao vivo na TV que, para levar o combate ao coronavírus às favelas, teria de dialogarcom traficantes e milicianos. Mesmo que não fosse deliberado, foi um recado a Bolsonaro e aos seus amigos do Rio das Pedras.

Se Bolsonaro recebe dinheiro de milicianos, depositados na conta da mulher dele, se o filho de Bolsonaro teve assessores milicianos para coordenar rachadinhas, se Bolsonaro era vizinho de um miliciano assassino, por que a saúde pública não pode salvar vidas conversando com as milícias amigas da família que está no poder?

Mandetta desafiou toda a estrutura bolsonarista pró-pandemia e impôs a Bolsonaro o plano de contenção e isolamento social e o apoio às restrições ao comércio decididas pelos Estados e pelos municípios.

A esquerda adjetiva Bolsonaro. Mas não consegue nada de muito substantivo para abalá-lo. Bolsonaro já foi desqualificado com todas as palavras depreciativas. Não há mais o que usar contra o maior amigo da peste. Mas nada funciona.

E então precisamos reconhecer que Mandetta desmascarou Bolsonaro. Pode, daqui a alguns meses, não ser nada. Mas pode, se quiser, mais adiante se redimir da sua trajetória de direitista. Ninguém veste o colete do SUS impunemente.

Se Mandetta for apenas uma farsa, pode sobreviver como farsante, como todos os Bolsonaros sobrevivem muito bem. Mas mereceria uma chance como nome de centro, mesmo com todos os vínculos com o novo coronelismo do Cerrado.

Entre Doria Júnior, Sergio Moro, Luciano Huck, Wilson Witzel e outros, Mandetta é mais um deles, com uma diferença: esteve dentro da trincheira da saúde pública no pior momento da saúde do Brasil em um século.

Não há como não ter sido contagiado. A direita precisa de opções que não sejam da turma de Bolsonaro. Mandetta pode ajudar a esvaziar o bolsonarismo e a dividir a direita. Esse é o serviço a ser feito. Dividir a direita.

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A JOGADA
Pode depender do resultado de uma investida do governo no Supremo a decisão de Bolsonaro de trocar Mandetta. Porque não adianta trocar, se o governo federal não tiver como se impor diante das decisões dos Estados.
Essa é a ação. A AGU (Advocacia-Geral da União) recorreu da decisão do ministro Alexandre de Moraes, para que o Supremo reconheça a competência da União para regulamentar o isolamento social durante a pandemia.
Moraes decidiu, por liminar, que Estados e municípios podem tomar decisões na área da saúde, sem autorização do governo federal.
Mas a AGU recorre com esse argumento: governadores e prefeitos podem ter competência em matéria de saúde pública, mas não podem deixar de cumprir normas da União.
O resumo: têm competência, mas não têm. O STF terá de decidir. Se Moraes for derrotado, Bolsonaro fará o que vem entender, e a peste estará em festa permanente.

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