O SONHO DE BOLSONARO

Bolsonaro tem uma ideia fixa compartilhada com a maioria do terço da população que o apoia. É mais do que uma ideia, é um sonho que não consegue levar adiante, porque o Supremo assegurou aos Estados autonomia para impor restrições e isolamentos.

Trabalhadores de uma obra aqui da Aberta dos Morros, que não pararam no 1º de maio, sabem que o sonho do homem é liberar tudo e todos para que morra quem tiver que morrer. E que os sobreviventes comemorem por terem escapado.

Bolsonaro sabe que o tal achatamento de curva prolonga o contágio e mata menos, mas pode prolongar também a necessidade de ajuda. R$ 600 por três meses podem ser esmola pouca. O Brasil é um dos países que mais sonegaram socorro de verdade aos trabalhadores.

Mas Guedes e Bolsonaro, que socorreram bancos e grandes empresas, não aceitariam quatro ou cinco meses de auxílio. E a ajuda oferecida precisa circular no comércio em geral e nas igrejas, e não só em supermercados, mercadinhos, farmácias e padarias.

A maior parte do comércio, fechada pela imposição de decretos, não tem hoje o direito de ficar com seu pedaço dos R$ 600 de desempregados, pobres e miseráveis.

O projeto ideal para Bolsonaro, Osmar Terra, o véio da Havan, o véio do Madero, os bancos e os pastores (é preciso arrecadar o dízimo) é esse. Liberem tudo.

Eles querem contágio de manada. Mesmo que com o colapso total da saúde, médicos e enfermeiros morrendo, gente se arrastando pelas calçadas dos hospitais, vivos e mortos misturados nos corredores, mas tudo se resolvendo em menos tempo.

Mas aí dizem que haveria uma revolta. Não haveria. Quando o número de mortos chegar a mil por dia, quando as pessoas tiverem não um, mas muitos conhecidos entre os mortos e até amigos e parentes, mesmo assim o cenário continuará o mesmo.

Bolsonaro e a extrema direita sabem que a consternação não tem longo alcance, mesmo que a pandemia mate 100 mil ou meio milhão. Será uma consternação de Jornal Nacional.

As mortes estarão ao nosso lado e, ao mesmo tempo, por autodefesa da desinformação e da ignorância, estará sempre longe de todos. As covas coletivas serão sempre dos mortos dos outros.

Os ricos e os pobres que apoiam Bolsonaro não deixarão de apoiá-lo se o número de mortes dobrar a partir dos próximos dias.

Bolsonaro continuará dizendo que o isolamento não ajudou em nada, e pelo menos metade do um terço que o apoia vai acreditar.

Ele não precisa de base científica, de consultores e de palpiteiros, não precisa de nada para dizer as besteiras que diz. Simplesmente quer a claque dos ricos (que sabe que ele fala besteira) e a resignação dos pobres, neopentecostais ou não, que acreditam na sua sabedoria.

Bolsonaro sonha com o dia em que o contágio irá se acelerar de forma incontrolável, para que tudo acabe logo. Que a pandemia faça uma limpeza de velhos, pobres e negros e, se possível, também de índios.

Bolsonaro e toda a extrema direita estão inquietos porque o sonho por enquanto é só deles. Por enquanto.

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