AS VOZES QUE FALAM BAIXO NO SUPREMO

Todos os ministros do Supremo, menos dois, já se manifestaram com veemência sobre a ameaça de golpe, com referências diretas aos blefes de Bolsonaro e dos generais. Na verdade, todos os ministros, menos duas.

Depois de Luis Roberto Barroso e Edson Fachin, que se manifestaram com vigor essa semana, ainda falta ouvir Rosa Weber e Cármen Lúcia.

Podem dizer que Luiz Fux fez, dia 27 de maio, um discurso em defesa da democracia porque falou em nome de Dias Toffoli, que estava hospitalizado. Não é verdade. O discurso foi escrito e compartilhado pelos dois.

No dia 9 de junho, Toffoli voltou à carga, na cerimônia de lançamento de um manifesto pela democracia, e disse:

“Não é mais possível, e aqui dialogo com presidentes de Poderes, em especial ao presidente Jair Bolsonaro, atitudes dúbias”.

Antes, em entrevista publicada no dia 7 pelo Estadão, Gilmar Mendes havia dito, em tom de deboche:

“Vamos parar de brincar de ditadura”.

Na terça-feira, Luis Roberto Barroso foi incisivo ao dizer que as Forças Armadas não são um poder moderador, ao responder a uma provocação dirigida ao Supremo, para que se pronunciasse sobre o famoso artigo 142 da Constituição.

E o que têm dito Rosa Weber e Cármen Lúcia? No dia 21 de maio, ao deixar a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, Rosa Weber defendeu a democracia e disse que esses são “tempos inesperados e sombrios”.

Tempos sombrios podem ser bons como poesia, mas não definem com clareza uma posição diante da ameaça de arbítrio. E defender a democracia, de forma genérica, é algo quase protocolar para uma ministra do Supremo.

Já Cármen Lúcia falou pela última vez em democracia no dia 28 de maio, na abertura da sessão da 2ª Turma do STF, na condição de presidente da turma.

Leu uma nota em que disse: “Nós, juízes deste Supremo Tribunal, exercemos nossas funções como dever cívico e funcional, sem parcialidade nem pessoalidade. Todas as pessoas submetem-se à Constituição e à lei no Estado Democrático de Direito”.

Também foi protocolar. A nota foi lida logo depois do general Augusto Heleno advertir que a possibilidade de apreensão do celular de Bolsonaro (no inquérito sobre rolos com gente da Polícia Federal) poderia ter “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”.

Ministros gostam de dizer que só se manifestam nos autos. O Supremo está sendo atacado fora dos autos. É bom lembrar que Cármen Lúcia já presidiu o Supremo.

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O HOMEM DAS CRUZES
Para esclarecer, para quem leu a notícia no Globo. Chama-se Marco Antonio de Nascimento Silva, tem 55 anos e é taxista o protagonista do vídeo mais visto na internet no Brasil na quinta-feira.

É da cena em que ele recoloca na areia as cruzes de uma homenagem aos mortos da pandemia, em Copacabana.

Eu e muitos outros escrevemos (tem texto de ontem aqui no blog) que ele participava da homenagem-protesto da ONG Rio da Paz, mas na verdade o taxista estava passando, quando um bolsonarista começou a arrancar as cruzes.

Silva sentiu-se agredido, porque havia perdido o filho, Hugo, de 25 anos, morto pelo coronavírus, e decidiu reagir.

Está esclarecido. Um taxista enfrentou o bolsonarista e sua turma.

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