BOLSONARO, O GOLPE E O BAIXO CLERO FARDADO

O professor Ricardo Galvão, do Instituto de Física da USP, demitido da direção do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em junho, depois das advertências sobre a devastação da Amazônia, tem uma abordagem interessante sobre os possíveis limites da adesão dos militares às loucuras de Bolsonaro.

Galvão identifica um “baixo clero militar” no entorno de Bolsonaro, o líder desse grupo, que não seria majoritário. O professor é físico, não é cientista político, mas esteve dentro do governo numa área militarizada.

Que grupo seria esse, fardado mesmo que de pijama? Onde se encontra a divisão entre baixo e alto clero? E quem desses grupos se incomodou com a presença de Bolsonaro domingo diante do Quartel General do Exército, onde fez o discurso pelo golpe? E logo no Dia do Exército.

A ditadura teve militares cruéis e furiosos, que agiam quase à margem do poder, sem que pudessem ser controlados pelos chefes.

Podem dizer, apenas como reforço à condenação do regime, que eram todos da mesma laia e tinham a mesma ferocidade. Não eram e não tinham.

Essa generalização é simplificadora. Os pesquisadores e o jornalismo já se encarregaram de contar como agiam os que se posicionavam à direita da extrema direita.

Está tudo narrado nos relatórios da Comissão da Verdade, do Tortura Nunca Mais, nos relatos da Igreja Católica e das próprias vítimas da tortura.

Alguns generais omitiam-se, outros não conseguiam exercer controle absoluto sobre seus comandados e, claro, muitos outros foram cúmplices de torturadores e assassinos.

Mas esses grupos de operadores práticos, do que seria o baixo clero da época, era subalterno, do segundo time para baixo. Era quem fazia o serviço sujo.

O que muda no governo Bolsonaro é que o próprio Bolsonaro é a maior expressão do baixo clero militar no poder.

Sylvio Frota, Newton Cruz e Ednardo Mello eram a extrema direita da ditadura. Mas nunca alguém imaginou na época que um deles poderia chegar ao poder.

E todos eram generais. Bolsonaro era tenente e chegou. E pelo voto. O Brasil elegeu um adorador de torturadores, um tenente da porção mais desqualificada das Forças Armadas.

O que se vê hoje talvez não seja apenas perda de qualidade intelectual das lideranças e dos quadros militares, é um rebaixamento geral por algum déficit de formação técnica e moral.

Bolsonaro atraiu para o poder mais de 2,5 mil militares de alta patente. É uma elite semelhante à que sustentou a ditadura? Somente saberemos mais adiante, mas parece que não.

Hoje mesmo corre a notícia de que o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, será tutelado por um militar. O número dois da pasta, que é o secretário-executivo, deve ser o general Eduardo Pazuello.

O número dois de Luiz Henrique Mandetta era o médico gaúcho João Gabbardo. Podem dizer (mas não precisa ficar repetindo, como se isso fosse desqualificador de um profissional da saúde) que ele trabalhou com Osmar Terra.

Sim, trabalhou. Mas é um médico com histórico de atuação em saúde pública e servidor público de carreira. Seu sucessor será um general sem formação em medicina e que nada entende de saúde pública.

É mais um general, enquanto Bolsonaro usa os militares para transmitir a ideia de que aposta no golpe com o apoio dos fardados.
Se não apostasse não teria feito o discurso de domingo, dizendo que não negocia mais nada, na frente do QG do Exército.

O alto clero talvez não tenha gostado. Mas quem ficará sabendo o que de fato pensa o alto clero?

One thought on “BOLSONARO, O GOLPE E O BAIXO CLERO FARDADO

  1. Quando eu usava o Twitter, em 2019, eu comentei várias vezes que essa história de golpe não podia ser verdadeira, simplesmente porque os que estão por trás de Guedes, não querem.

    Não porque são bonzinhos, mas porque as demais sociedades do mundo não querem fazer negócios com ditadores. O repúdio vem dos povos, da classe média, etc., não dos invetidores ou altos empresários. Guedes e um Chicago boy, um neoliberal.

    Se estourar a ditadura aqui, todos os planos deles vão por água abaixo, por isso toda essa história é conversa fiada e eu percebi isso quando Bolsonaro, que já estava ameaçando com um golpe, CHANTAGEOU o Congresso oferecendo um alto valor em emendas para cada deputado. Ali ficou clara toda farsa.

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